Por Dr. Vítor Pinho Oliveira, Médico Anestesiologista e Dra. Rute Gomes, Médica Interna de Gastrenterologia, ULS Viseu Dão-Lafões
O que é a sedação nos exames endoscópicos?
A sedação consiste na administração de medicamentos que induzem um estado de relaxamento e sonolência controlados, aumentando a tolerância do doente ao procedimento. A sedação para procedimentos endoscópicos é feita de forma gradual, personalizada e tem caráter dinâmico.
Níveis de sedação e monitorização constante
Os níveis de sedação variam desde um estado de ligeira sonolência até uma sedação mais profunda. O objetivo é conferir uma experiência de conforto e segurança, respeitando sempre a individualidade de cada doente. Durante todo o exame, o doente está acompanhado e monitorizado por uma equipa especializada e são avaliados, de forma contínua, os seus sinais vitais nomeadamente a pressão arterial, a frequência cardíaca e a oxigenação do sangue.
Dignidade, conforto e segurança
A tolerância do doente aos exames endoscópicos é amplamente variável. A sedação em endoscopia associa-se a exames de melhor qualidade e a maior satisfação do doente. Esta dimensão é especialmente importante, tendo em conta a vulnerabilidade física e emocional associada a este tipo de procedimentos. O Anestesiologista é o médico responsável por assegurar a segurança e conforto do doente. A utilização de fármacos como o Propofol permite uma recuperação do estado de normal consciência de forma rápida, segura e agradável.
Alguns mitos a desconstruir
“A sedação está associada a mais complicações endoscópicas.”
É frequente pensar-se que, ao estar sedado, como o doente não reage, haver um maior risco de complicações mas isso não corresponde à realidade. O Endoscopista treinado é sensível ao risco e sabe reconhecê-lo, independentemente da sedação aplicada no procedimento. Além disso, a sedação não impede a deteção de sinais clínicos relevantes. Existem protocolos bem definidos para a vigilância pós-exame e para o reconhecimento precoce de qualquer alteração.
“É sempre necessário estar anestesiado para fazer uma endoscopia.”
Nem sempre. A tolerância é amplamente variável e muitos doentes toleram bem o procedimento sem qualquer sedação, não comprometendo a qualidade do exame. A escolha deve ser individualizada e informada.
Quem deve ser avaliado antes do exame?
A necessidade de exames (raio X do tórax e eletrocardiograma) e análises prévias ao procedimento deve ser ponderada caso a caso. A boa prática médica e evidência científica atual sugerem que estes exames pré anestésicos devem ser pedidos quando a história clínica o justificar, evitando custos desnecessários e diagnósticos fúteis, sem relevância clínica.
Importa reconhecer que alguns doentes devem ser referenciados previamente para consulta de Anestesia, nomeadamente:
- Pessoas com doenças respiratórias, neuromusculares ou com obesidade grave;
- Doentes com alterações da via aérea ou histórico de entubação difícil;
- Doentes com Apneia do do Sono, que utilizem ventilação não invasiva (CPAP) ou oxigénio domiciliário.
Nestes casos, a avaliação pré-anestésica permite preparar os recursos necessários para o momento do exame, garantindo a máxima segurança para a realização do mesmo.
O jejum antes do exame: porquê e como fazer?
Esta recomendação visa prevenir o risco de aspiração de conteúdo do estômago para a via respiratória, uma complicação rara, mas potencialmente grave. O jejum deve ser feito com rigor, mas pode ser facilitado com estratégias simples como o consumo de líquidos claros açucarados nas horas que antecedem o exame.
Cumprir o jejum é fundamental para garantir a segurança da sedação.
As recomendações são claras:
- 6 horas para alimentos sólidos (incluindo bebidas alcoólicas);
- 2 horas para líquidos claros (água, chá, sumos filtrados);
Após o exame: recobro e recomendações
Após o exame, o doente é monitorizado num espaço adequado para esse propósito designado de recobro até recuperar totalmente a consciência e a sua autonomia. Deverá alimentar-se com uma refeição ligeira, caminhar com segurança e, reunidas as condições, poderá abandonar a unidade de técnicas endoscópicas.
Recomenda-se que o doente não conduza nem tome decisões importantes no dia do exame, uma vez que podem existir efeitos residuais da sedação.
Conclusão
A anestesia nos exames endoscópicos é segura, eficaz e adaptada à individualidade de cada pessoa.. O seu objetivo é claro: garantir uma experiência positiva, digna e confortável, sem comprometer a segurança nem a qualidade diagnóstica.
Esclarecer dúvidas, desconstruir mitos e reforçar a confiança no processo é essencial para promover a adesão dos doentes e melhorar os cuidados em saúde digestiva.
Outubro 2025